quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Equinócio

Aquele dia não era mais do que uma simples terça feira um tanto fria. Pessoas apressadas andavam de um lado para o outro num shopping qualquer de qualquer lugar atrás de compras ou indo a um banco. Tanto fazia. Seria um daqueles dias que você infelizmente esquece, a não ser que seja um daqueles caras estranhos com uma enorme memória. Eu digo "um daqueles caras" porque duvido que uma mulher acharia tempo pra se lembrar de tantas coisas com tanto o que fazer. Aliás, muitas delas não acham muito tempo pra nada, nem pra compromissos anuais marcados com antecedência. E era um pensamento bastante parecido que tinha aquela moça de branco, com uma postura impecável, pomposamente vestida, com uma enorme e pomposa capa e um fino e pomposo chapéu. Se virava impaciente no banco a procura de alguém que não chegava.
"Me desculpe!", ouviu a mulher de branco, "Me desculpe! Chego um pouco atrasada esse ano, mas é de praxe, né?"
Sentou ao seu lado uma moça tão elegante quanto seu conjunto de moleton permitia. Usava tons de rosa, desde o batom forte ao tênis caro de corrida. Havia uma touca também, mas mesmo essa parecia ser algo incrívelmente bonito. Ela sorriu à moça de branco, que a olhava com o rigor nos olhos e uma boca torta de impaciência.
"Ah, não me olhe assim, você é que sempre chega adiantada." retrucou àquele olhar. A moça de branco suspirou, e por fim, disse.
"Foi um bom ano. Está tudo limpo e arrumado." começou a dizer "Devo deixar em umas duas semanas pra você assumir, já está tudo em ordem?"
"Ah não" riu a amiga. "Prefiro deixar tudo...florescer, se é que me entende!"
"Você é incurável"
" E você uma pedra de gelo. Se é que me entende!" ela sorriu. Se curvou para a amiga - o que sinceramente fez acentuar a diferença entre elas - e sussurrou "Acho que fomos vistas".

Então ambas olharam pra mim, eu sorri pra elas e saí com as compras da semana. Ciente e absolutamente certa que acabava de presenciar o Inverno e a Primavera trocando de lugar


















Véio, hein?

Um comentário:

Por enquanto anonimo. disse...

"Um conto curto, simples (daqueles que não vomitam informações em cima de você), e muito charmoso."


- The New York Times.


AHTRI.
Neil Gaiman é sua referencia, bitch.