sábado, 9 de junho de 2012

O Jardim da Árvore Solitária.

Em uma cidade qualquer, não muito grande ou importante para ser lembrada, há um parque no qual encontra-se um jardim com uma única árvore solitária. Não é muito alta ou frondosa, mas com altura suficiente para se subir e com uma copa vasta o suficiente para oferecer uma sombra agradável. Somente o encontram aqueles que caminham distraídos por tempo suficiente para serem guiados pelos próprios pés, então, naturalmente, são crianças em sua maioria. Muitas delas contam animadas umas as outras e a seus pais como ouviam aquela árvore solitária do jardim sussurrar, outras diziam que ela parecia se mexer quando não há vento, mas quando olham de perto está tão estática quanto uma pintura. Obviamente, os pais dessas crianças faziam o que qualquer ser humano racional faria e gastavam enormes quantias de dinheiro com tratamentos psiquiátricos para que nunca essas crianças ousassem a sair dos moldes da realidade novamente. Mas haviam as crianças sensatas que sabiam guardar segredos assim daqueles que não entenderiam, ainda mais segredos tão perturbadores quanto os sussurrados por aquela árvore.
 Quando as crianças se aventuravam a encostar suas orelhas na árvore por tempo suficiente ouviam a seguinte história:
O filho de uma poderosa bruxa havia se apaixonado pela princesa do reino. Ela estava presa em uma torre guardada por um dragão, e num surto de paixão e coragem o jovem se lançou em uma busca interminável para salvar seu único e verdadeiro amor. Ao encontrar a torre, o jovem passa com grande dificuldade pelo dragão e chega até o quarto onde a princesa está guardada, bastante ferido e com a terrível besta se aproximando a largos passos. Enquanto os urros da fera fazem vibrar as paredes da torre, o jovem pede para que a princesa venha com ele para a liberdade.
 Nessa parte, a árvore ri.
A princesa chega sozinha ao vilarejo mais próximo, é reconhecida e mandada de volta ao seu castelo. Fazem uma festa para comemorar seu retorno, e em meio aos risos e música, a princesa se encontra com uma senhora de olhos escuros como a noite. Ela a oferece uma bebida que promete fazer grandes revelações e trazer sabedoria sem fim, como presente pela bênção se deu retorno. A princesa aceita de bom grado, e vira a bebida alí, de uma só vez, então, para o espanto de todos, uma tempestade se forma, o vento cala as vozes e a  música, e somente a voz da senhora dos olhos da noite se faz ouvir.
"O que aconteceu com ele? O jovem que foi te salvar?"
A princesa contou, sem melindres e sem controle sobre suas palavras, como roubou a espada do jovem e sozinha cortou seu caminho para a liberdade, enquanto o dragão se ocupava com sua isca, agora indefesa. Contou como ouviu o jovem gritar por ela, como chorou de medo, e como chamou por sua mãe, bem no final. Ela conta que achou patético e fraco.
A senhora chora de raiva. Seu filho havia se perdido no egoísmo de seu único e verdadeiro amor. Então, como vingança por tamanha desfeita, a senhora transforma a princesa em uma árvore, e a condena viver sozinha e calada por eras até que suas reflexões se transformassem em culpa e a corroessem como cupins.
Nessa parte, a árvore sussurra que ainda gosta de matar jovens meninos por diversão e que os cupins ainda não haviam chegado. E derruba as crianças no chão. Elas correm assustadas para seus pais e suas casas.
E a arvore ri.

Um comentário:

Anônimo disse...

Escritores devem ter orgulho do que fazem.
Contar histórias que encantam dão esperança é um dom muito raro. Muitos aparecem e tentam fazer a mesma coisa, mas...
Seus corações não sabem ler os segredos da alma.
Esses escritores, os verdadeiros escritores, nunca perdem a sua essência.
Porque "é de lá que vem a noite".