Quando as crianças se aventuravam a encostar suas orelhas na árvore por tempo suficiente ouviam a seguinte história:
O filho de uma poderosa bruxa havia se apaixonado pela princesa do reino. Ela estava presa em uma torre guardada por um dragão, e num surto de paixão e coragem o jovem se lançou em uma busca interminável para salvar seu único e verdadeiro amor. Ao encontrar a torre, o jovem passa com grande dificuldade pelo dragão e chega até o quarto onde a princesa está guardada, bastante ferido e com a terrível besta se aproximando a largos passos. Enquanto os urros da fera fazem vibrar as paredes da torre, o jovem pede para que a princesa venha com ele para a liberdade.
Nessa parte, a árvore ri.
A princesa chega sozinha ao vilarejo mais próximo, é reconhecida e mandada de volta ao seu castelo. Fazem uma festa para comemorar seu retorno, e em meio aos risos e música, a princesa se encontra com uma senhora de olhos escuros como a noite. Ela a oferece uma bebida que promete fazer grandes revelações e trazer sabedoria sem fim, como presente pela bênção se deu retorno. A princesa aceita de bom grado, e vira a bebida alí, de uma só vez, então, para o espanto de todos, uma tempestade se forma, o vento cala as vozes e a música, e somente a voz da senhora dos olhos da noite se faz ouvir.
"O que aconteceu com ele? O jovem que foi te salvar?"
A princesa contou, sem melindres e sem controle sobre suas palavras, como roubou a espada do jovem e sozinha cortou seu caminho para a liberdade, enquanto o dragão se ocupava com sua isca, agora indefesa. Contou como ouviu o jovem gritar por ela, como chorou de medo, e como chamou por sua mãe, bem no final. Ela conta que achou patético e fraco.
A senhora chora de raiva. Seu filho havia se perdido no egoísmo de seu único e verdadeiro amor. Então, como vingança por tamanha desfeita, a senhora transforma a princesa em uma árvore, e a condena viver sozinha e calada por eras até que suas reflexões se transformassem em culpa e a corroessem como cupins.
Nessa parte, a árvore sussurra que ainda gosta de matar jovens meninos por diversão e que os cupins ainda não haviam chegado. E derruba as crianças no chão. Elas correm assustadas para seus pais e suas casas.
E a arvore ri.
Um comentário:
Escritores devem ter orgulho do que fazem.
Contar histórias que encantam dão esperança é um dom muito raro. Muitos aparecem e tentam fazer a mesma coisa, mas...
Seus corações não sabem ler os segredos da alma.
Esses escritores, os verdadeiros escritores, nunca perdem a sua essência.
Porque "é de lá que vem a noite".
Postar um comentário