Na verdade era um só, mas tantas pessoas ela estimava que uma festa apenas não comportaria as pessoas que seu coração abrigava, então ela fazia Mil e Uma festas de aniversário.
Essas festas costumavam a misturar muitos dos seus amigos, conforme a afinidade entre eles. Ao preparar a lista de convidados de cada festa usava medidas, balanças, cálculos e intuições, se sentindo assim meio bruxa, meio cupido, meio um dedo do acaso. Ela gostava muito quando seus amigos faziam novas amizades, e pra ela era muito melhor do que qualquer presente saber que as pessoas estimadas tinham companhias que ela sabia que eram confiáveis.
Os anos variavam de tema (uma vez eram festas em casa e pic-nics, outra eram festas dançantes, ainda pequenas reuniões em restaurantes), variavam de companhias que a vida permitia que estivessem alí naquele momento, variava o cabelo... Mas o amor permanecia. E era com amor que ela fazia questão de agradecer a cada um por estar alí, em mais um outono de vida, e fazer daquela uma ocasião especial.
Mas em uma ocasião em que seus sentimentos eram ventania e tempestade dentro de sua cabeça, o mar de pensamentos batia nos olhos e a fazia chorar sempre que uma reviravolta violenta demais acontecia. E tudo que ela queria para seu aniversário era paz e silêncio. Tentou fazer uma pequena festa intimista, ao invés de Mil e Uma festas, mas não conseguiu. Havia, como sempre, muitos convidados.
Tentou desconvidar, tentou selecionar, mas se sentiu ingrata e injusta.
Tentou parar de se culpar ou se sentir instável e de sentimentos fáceis. Tentou até se sentir menos tola, mas não conseguiu.
Acreditou por um momento que seu amor era fácil, que não tinha filtros e se descuidava.
E ficou triste, pois nem sempre ser uma pessoa plural e de muitos amores para sustentar era fácil.
(continua quando a menina souber um motivo pra não ficar mais triste...)