segunda-feira, 16 de abril de 2012

Mil e Um aniversários. Parte I

Era uma vez uma menina que, a cada ano, fazia Mil e Um aniversários.
Na verdade era um só, mas tantas pessoas ela estimava que uma festa apenas não comportaria as pessoas que seu coração abrigava, então ela fazia Mil e Uma festas de aniversário.
Essas festas costumavam a misturar muitos dos seus amigos, conforme a afinidade entre eles. Ao preparar a lista de convidados de cada festa usava medidas, balanças, cálculos e intuições, se sentindo assim meio bruxa, meio cupido, meio um dedo do acaso. Ela gostava muito quando seus amigos faziam novas amizades, e pra ela era muito melhor do que qualquer presente saber que as pessoas estimadas tinham companhias que ela sabia que eram confiáveis.
Os anos variavam de tema (uma vez eram festas em casa e pic-nics, outra eram festas dançantes, ainda pequenas reuniões em restaurantes), variavam de companhias que a vida permitia que estivessem alí naquele momento, variava o cabelo... Mas o amor permanecia. E era com amor que ela fazia questão de agradecer a cada um por estar alí, em mais um outono de vida, e fazer daquela uma ocasião especial.

Mas em uma ocasião em que seus sentimentos eram ventania e tempestade dentro de sua cabeça, o mar de pensamentos batia nos olhos e a fazia chorar sempre que uma reviravolta violenta demais acontecia. E tudo que ela queria para seu aniversário era paz e silêncio. Tentou fazer uma pequena festa intimista, ao invés de Mil e Uma festas, mas não conseguiu. Havia, como sempre, muitos convidados.
Tentou desconvidar, tentou selecionar, mas se sentiu ingrata e injusta.
Tentou parar de se culpar ou se sentir instável e de sentimentos fáceis. Tentou até se sentir menos tola, mas não conseguiu.
Acreditou por um momento que seu amor era fácil, que não tinha filtros e se descuidava.
E ficou triste, pois nem sempre ser uma pessoa plural e de muitos amores para sustentar era fácil.


(continua quando a menina souber um motivo pra não ficar mais triste...)




terça-feira, 10 de abril de 2012

A calmaria depois da tempestade

Serve pra gente se dar conta de como podemos ser bem panacas e fazer um grande caso de algo bem simples.

domingo, 1 de abril de 2012

O pão nosso de cada dia.

Pão, como se espera, é uma metáfora pra algo solido mas não firme, é algo que eu posso moldar, amassar, rechear, torrar e por fim comer. E é uma parada, essa, que faz migalha.
E meu Deus, haja migalha.
As migalhas de um pão já feito. Foi preparado pra outra pessoa, que solta os farelos no chão. Eu, cega de fome e desespero me atiro freneticamente (pois esse é o unico jeito que sei) e devoro as migalhas todas, sem ver exatamente o que as provoca.
Mas a fome bate de novo, os restos minguam, o vazio volta. Eu olho pra cima e vejo nada além do pão bem amassado nas mãos de outra pessoa, que não sente fome.
"É maldade" penso.
"Mas alí tem algo que você não pode comer além do pão que produz o farelo, e te seria indigesto" dizem. "Então não é maldade te privar. Pare de sentir fome."

Como parar de sentir fome?
E se não houver mais nada para comer?
Será aquilo tudo tão indigesto assim?

E será que tu sabes quantos desses aqui são pra ti?